sociedade e comportamento

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Marcio Felipe Medeiros

  • Feminicídios no RS: vidas passíveis ao luto?
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

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    Nossa coluna repaginada sobre " Sociedade e Comportamento" irá tratar de um tema importante para o debate público. Vamos tratar dos crimes de feminicídio, morte pela desigualdade de gênero, objeto de pesquisa de quem vos escreve. Em pesquisa recente, realizada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, os casos de feminicídio subiram 21% em 2021. Isso é fruto do contexto de pandemia ou é fruto do desmonte de políticas públicas para as mulheres em âmbito nacional e estadual?

    VIOLÊNCIA EM CASA

    A morte violenta de mulheres, infelizmente, toma conta dos noticiários. Somente no mês de janeiro de 2022, foram registrados 10 feminicídios consumados e 20 tentativas no Rio Grande do Sul. Em 2021, o Estado registrou 97 feminicídios. Em 2020 ,foram 80 de acordo com o Observatório Estadual de Segurança Pública do RS.

    A pesquisa feita pela Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), divulgada em janeiro, apresenta uma realidade já conhecida, a maioria dos feminicídios é cometida por companheiros ou ex que não aceitam o fim do relacionamento, e mais: a violência ocorre na casa da vítima.

    POLÍTICAS PÚBLICAS

    Neste contexto de pandemia e recessão econômica, aprofundou-se a violência doméstica e familiar. Além da pandemia provocada pela Covid- 19, que mudou a realidade da maioria das famílias, contamos com o empobrecimento, aumento do desemprego, falta de acesso aos alimentos básicos, entre outros problemas. Ou seja, tal cenário potencializa conflitos que podem resultar em violação de direitos, como no caso da violência contra as mulheres.

    Precisamos enfrentar a violência contra as mulheres garantindo a elas direitos básicos como emprego, saúde, renda, educação. Precisamos ajudá-las , precisamos ter políticas públicas de enfrentamento à violência nas cidades gaúchas. Somente com políticas públicas comprometidas com a vida, poderemos viver com dignidade e livre de violência.

    Conhecimento está na academia?
    Marcio Felipe Medeiros
    Sociólogo e professor universitário

    Quando nasce um pai ou uma mãe, a maioria das preocupações está em como sustentar esta nova criança, arrumar enxoval e dar condições de alimento, segurança, educação e saúde. Mas o que uma criança precisa para crescer e desenvolver? Uma criança amada, mas com os limites necessários de saber que a vida não é uma Disneylândia e que o mundo não gira em torno para satisfazer aos seus desejos mágicos, tem mais chances de ser um adulto melhor resolvido. Vai saber lidar com as frustrações e pequenas derrotas do cotidiano entendendo que faz parte do amadurecimento do caráter e que a vida é o eterno equilíbrio em administrar os sonhos e a responsabilidade da realidade. 

    Mas quando as frustrações são sucessivas e permanentes na falta de afetividade familiar, os bens e as coisas substituem os abraços, os beijos e longas conversas, e a inversão de valores começa a ser conduzida. Muitos pais acreditam que precisam trabalhar muito, para dar o último modelo do celular, o melhor notebook e todo o conforto que, muitas vezes, não teve quando criança. O dinheiro pode pagar tudo, só não substitui o tempo da atenção, do amor e do chamego. É cansativo ouvir as mesmas aflições, o mesmo assunto de "mi-mi-mis". Mas faz parte do universo e da realidade do filho. 

    Quer fazer parte da vida dele, saiba dos amigos, dos comportamentos, das paixões platônicas, dos ídolos, das piadas idiotas, dos micos, dos professores mais legais e inspiradores, das paqueras. Ninguém vai conseguir intimidade com um filho aos 18 anos de idade, após uma vida de ausências. 

    Poderemos ter jovens saudáveis com pais ausentes? Com pais neuróticos e desequilibrados?

    A falta afetiva dos pais, separados ou juntos na mesma casa, é assunto tão grave que até a justiça precisou intervir. Além da pensão alimentícia, obrigação por lei, e com previsão de cadeia pelo seu descumprimento, há casos na jurisprudência de dano moral por abandono afetivo. Estamos falando de novo de dinheiro para penalizar a falta de amor. Será que haveria nesta existência alguma compensação financeira que resolvesse os buracos dentro do coração?

    Conhecemos profissionais brilhantes, pessoas incríveis, divertidas, inteligentes, saradas, famosas, palestrantes e coachs, mas os filhos ficaram à deriva. Não sobrou nada, além do dinheiro, da compensação em bens materiais, luxo, conforto e no staff de profissionais para cuidar. Com todo respeito a indústria medicamentosa, aos psicólogos, psiquiatras e aos terapeutas, mas nada substitui o amor e o tempo que os pais e familiares dispõem para os filhos. Pessoas amadas são mais fortes e conseguem suportar suas imperfeiçoes, pois estão amparadas por laços de afeto registradas desde a primeira infância. 

    Quanto vale o seu tempo? Quais os laços que você tem estabelecido?


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